PALAVRAS DENTRO DE PALAVRAS

 

Situados entre dois espaços em branco, elementos gráficos se articulam e criam um significado. Palavra ou obra de arte: existe uma designação técnica suficientemente precisa para ambos? Nem sempre sua semântica é a mesma que seus aspectos visuais. Do grego parabolé; a função da palavra é representar partes do pensamento, e por isto ela constitui uma unidade da linguagem humana, assim como a arte. Palavras dentro de palavras nomeia a exposição, neste espaço psíquico onde não existe delimitação. As paredes em branco da Galeria Paralela recebem as obras das sete artistas que, cada qual com sua poética, exploram essa temática: palavra.

 

Palavra-corpo, impressão que carimba a superfície e desconstrói a impressão do que é ser humano. Poesias visuais, narradas, sonoras e imantadas no corpo da própria artista são fatos plásticos nas vídeo-performances, pinturas e monotipias de Carolina Kasting.

 

Barbara Venosa propõe com planos espelhados uma tridimensionalidade, onde o infinito e o ponto de fuga não derivam um do outro em vão; refletem a fala indócil da artista sobre sua palavra-poiesis. Intervindo sobre o plano arquitetônico, suas esculturas convocam o olhar do espectador.

 

A frase de Eliane Brum -“A palavra é outro corpo que habito.”- estimula reflexões para a instalação barroca de Talitha Rossi. Seus poemínimos assim nomeados pela artista, bordados em sedas entremeadas por pérolas, se escondem em panejamentos que ocupam em grande escala o ambiente expositivo.

 

Diana Lobo pesquisa como a língua escrita revela o modo de pensar de um povo, seus alfabetos e glossários, que aprisionam e libertam. A escultura de sobreposições de carvão e dicionários em sua verticalidade, e módulos com grafias em relevo sugerem essa dicotomia linguística e política.

 

A escrita imagética afirma a presença e vela com papéis delicados a forte impregnação da arcada dentária, utilizada como matriz nas monotipias do livro-objeto, da artista plástica Clara Machado. Rastros, a morte, o não saber "de todo" a origem, as camadas temporais, as conservações emocionais, seguem nesse sítio habitado pela artista em suas caixas arqueológicas.

 

Yacunã Tuxá, Filha da Terra, ilustra com sua cosmovisão a resistência, persistência e espiritualidade da representação indígena contemporânea, onde a arte fala sobre o pertencimento. A representação animalizada, sexualizada, a dominação dos corpos não cabem mais no território humano que sempre se afirmou culturalmente, e não pode mais ter sua subjetividade negada. Com seus traços e colagens a artista reverencia suas tradições e traz de forma original esse debate.

 

Os signos reproduzidos que rotulam, encaixotam, designam, caracterizam e anunciam a que veio a presença corpórea, é incansavelmente objeto explorado por Sofia Junqueira no seu raciocínio plástico em desdobramentos de Frágil. Com performance e objetos a mineira recria o conceito de recalque versus decalque do arquétipo feminino elaborado pelo patriarcado.

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Marina Ribas